Em nossa primeira série especial, o Gayme Over irá destrinchar os cinco filmes de RE. Nesse post contaremos curiosidades da produção, erros de enredo, continuidade e faremos comparações com o game numa análise detalhada de cada título lançado até o momento, apontando os erros e acertos nos longas do diretor Paul W. S. Anderson.
Nesse post nos comprometemos em dizer a verdade, nada mais que a verdade mesmo que possa irritar alguns fãs dos filmes e dos jogos!
Nesta primeira parte temos como destino a cidade de Raccoon City, mais precisamente o laboratório secreto chamado de Colmeia! Então prepare-se e venha conosco nessa viagem turbulenta que são os 14 anos de Resident Evil no cinema!
Parte 1 – A Noite do Romero na Jogatina
Com o segundo game da franquia lançado em 1998, não demorou muito para Capcom começar a ver o potencial de marca que RE possuía e logo tratou de encomendar um filme baseado nos jogos. Na mesma época, o primeiro a ser cotado para escrever o roteiro foi o pai dos zumbis George Romero (A Noite dos Mortos Vivos), ele havia dirigido um comercial de RE 2 e sua experiência com zumbis o fez a pessoa mais indicada para tal tarefa.
Se liga no comercial dirigido pelo Romero:
https://www.youtube.com/watch?v=5vSlRrL689Y
Infelizmente (ou não) o roteiro foi descartado por não atingir o nível desejado pela Constantin Film, produtora da adaptação.
O roteiro de Romero nos apresentava um Chris nativo-americano, que vivia na floresta de Raccoon City criando suas águias de estimação, além de ter crescido na mansão Spencer e conhecer todas as passagens secretas para ajudar os S.T.A.R.S a passarem pelas armadilhas. Esse é o ponto mais diferente da história original, não significando que o filme seria bom, muito pelo contrário, teríamos um filme tão trash quanto as antigas obras feitas pelo mestre dos zumbis.
É importante lembrar que Romero não é um aficionado em games, por tanto, mesmo com um roteiro mais fiel ao jogo dificilmente o produto final agradaria aos fãs, criando mais um longa para entrar na lista de adaptações ruins.
O roteiro completo está disponível e traduzido em português para quem quiser se aventurar.
Após a rejeição, o jeito foi procurar outra pessoa que não era experiente com zumbis, mas um gamer que já havia adaptado uma das franquias mais adoradas do mundo para o cinema, com resultado que agradou gregos e troianos.
1.2 – O Hóspede Maldito
Após um tempo na gaveta, o projeto finalmente voltou a engrenar com a escolha de Paul W. S. Anderson (Mortal Kombat) como roteirista e diretor do longa. Ele e seu amigo, Jeremy Bolt, haviam criado a produtora Impact Pictures em 1992 e fizeram uma parceria com a Constantin Film para trabalharem na adaptação do jogo.
Aqui o chamaremos carinhosamente de Paulzinho!
Diferente de Romero, Paulzinho jogou os três games da saga principal antes de iniciar o roteiro. Com isso ele percebeu que os jogos não contam (até então) qual era a origem da infecção pelo T-virús, nesse detalhe ele viu a oportunidade de criar uma história original, com novos personagens, que pudesse preencher esse vazio na saga.
Foi assim que nasceu Alice (Milla Jovovich), a protagonista sem sobrenome que dividiria o universo de RE para sempre. A atriz já disse em entrevistas que quando fez o teste pensou que seria a Jill Valentine e só depois descobriu que a personagem foi criada exclusivamente para o filme, por se tratar de uma história ainda não contada nos games.
Para relembrar a história do primeiro filme, que conta as origens da infecção vejamos o trailer novamente:
A Colmeia é um laboratório subterrâneo onde cerca de 500 pessoas trabalhavam realizando experiência ilegais com o T-vírus, uma arma biológica capaz de reviver os mortos e causar mutações.
O vírus é roubado e o ladrão joga um frasco propositalmente no chão, o que faz com que acabe vazando pelo ar e causando uma infecção em massa.
O laboratório é controlado por uma inteligência artificial de alta tecnologia (ou nem tão alta assim) chamada de Rainha Vermelha. Ao descobrir que o vírus caiu no chão e todo mundo estava ferrado o que ela fez?
A. Selou o laboratório enviando uma mensagem de alerta para o pessoal de fora sobre o ocorrido?
B. Procurou as filmagens de quem havia feito isso e há quanto tempo a infecção ocorreu para verificar a possibilidade de enviar as imagens do culpado para outra instalação da Umbrella fazendo com que fiquem cientes do acontecido, além de selar o laboratório?
C. Somente avisar o que fez para a Umbrella enviando imagens dos mortos vivos caminhando pelo laboratório e esperar para eles resolverem a bagunça.
D. Matar todo mundo e cruzar os braços pois a infecção estaria contida e ninguém nunca iria tentar saber o que aconteceu ou enviar alguém para descobrir?
Quem assistiu percebeu que a Rainha Vermelha não é o computador mais inteligente, é até muito estranho colocarem uma IA no comando de uma instalação onde é feito o manuseio de vírus altamente contagiosos nos quais planos de contenção deveriam ser, em tese, o básico de sua programação.
E essa foi somente a introdução do filme que ainda nos traz diversas surpresas…
Enquanto isso no jogo…
A origem do incidente na mansão foi explicado em Resident Evil Zero, título lançado meses após o primeiro filme com exclusividade para Game Cube. Nele acompanhamos os protagonistas Rebecca Chambers e Billy Coen.
Rebecca é membro de um esquadrão especial chamado de S.T.A.R.S, que foram acionados para resolver os estranhos assassinatos que aconteceram nos arredores da cidade, as vítimas foram devoradas por criaturas desconhecidas. O helicóptero da equipe sofre uma pane e faz um pouso forçado no meio da floresta, lá eles encontram um jipe militar com os soldados mortos junto com o arquivo de Billy Coen, um soldado condenado à morte pelo assassinato de 23 pessoas.
Durante a investigação os dois se encontram e começam a se ajudar para escaparem das instalações da Umbrella com vida.
1.3 – Alice no país da zumbilândia
Se já não bastasse a decisão super inteligente que a Rainha Vermelha fez no início do filme, ela ainda solta um gás sonífero na mansão que serve como fachada para uma entrada secreta da Colmeia. Lá conhecemos Alice, a garota sem sobrenome que está sem memória devido aos efeitos colaterais do gás.
Ela acorda sem saber o que está acontecendo e é surpreendida por Matt, interpretado pelo gostoso Eric Mabius. Ao mesmo tempo, chega o time de soldados da Umbrella para saber o que se passa com esse computador maluco e todos entram no laboratório. Logo que pegam o trem para chegar no local (fica alguns quilômetros abaixo da terra) encontram mais um sobrevivente, que também não lembra do nome, só para variar. Alice vai tendo uns flashbacks e lembra que é casada com esse outro sobrevivente, mas fica na sua para tentar entender tudo melhor.
Chegando na entrada da câmara da Rainhha Vermelha, o hacker da equipe tenta abrir a porta e nem conhece todas as defesas do computador. O que é super normal, afinal de contas é compreensível enviar alguém para desligar um computador assassino sem mostrar para o cara tudo o que a máquina pode fazer. Então, continuemos…
Ao abrir a porta metade da equipe entra em um corredor todo trabalho no vidro e nas lights no melhor estilo Ellie Goulding, só que não contavam com a astúcia do Killer Computer que os prende lá dentro e começa a fazer picadinho de cada um deles.
Pausa para revermos a melhor cena do filme:
https://www.youtube.com/watch?v=e8gfGhVL3qs
Depois disso todo mundo fica com as calças borradas e cabe a incrível Alice criar coragem e ir até a CPU da Killer Queen para desligá-la. Enquanto eles montam a aparelhagem um holograma da Rainha Vermelha surge. Ela tenta explicar a situação com a seguinte frase: “vocês têm que sair”.
Oi….? Essa IA é tão mal feita que ela nem consegue dizer “Fujam para as colinas o vírus vazou”.
Obviamente, depois dela ter matado metade da equipe ninguém acredita e continuam a montar os aparelhos enquanto a assassina resmungava: “me desligar acarretaria na perda de energia central”. Sem muita conversa, l hacker termina o dispositivo que vai dar um choque no sistema da Rainha e antes de apertarem o botão, focam o close na cara da demônia que dispara a frase mais icônica da saga:
“Vocês todos vão morrer aqui”
Tudo se apaga e as portas com a zumbizada se abrem…
Enquanto isso no jogo…
No fim de RE 0, Rebecca e Billy sobrevivem seguindo caminhos separados, Billy tem que viver como fugitivo devido ao crime que não cometeu e Rebecca precisa continuar sua missão em busca de respostas.
A equipe Alpha dos S.T.A.R.S é enviada para resgatar o time que se perdeu na floresta, entre os membros estão Jill Valentine e Chris Redfield. Ambos farão aparições nos filmes posteriormente.
Durante a investigação a equipe Alpha descobre a localização do helicópitero da equipe Bravo, mas são atacados por cães carnívoros e são obrigados a entrar em uma misteriosa mansão que pertence à Umbrella. Lá eles descobrem todos os podres da corporação derrotando diversas armas biológicas e lendo arquivos sobre o que aconteceu naquele local.
Albert Wesker é o líder do time Alpha, mas estava infiltrado. Ele revela que estava trabalhando para a Umbrella e que sua real missão era impedir que o incidente viesse a público.
1.4 – E agora?
Logo os personagens descobrem que cometeram o maior erro de suas vidas e são atacados pelos zombies. Após um tiroteio tenso em que ninguém tenta atirar na cabeça dos monstros – porque no universo dos filmes de zumbi ninguém assiste filme de zumbi – eles retornam à câmara da Rainha Vermelha para obter explicações. Como essa é IA é muuuuuito inteligente, só ai ela resolve contar o que está acontecendo e como matar as criaturas. Ela informa uma rota de fuga para os heróis pois eles a ameaçam de desligá-la para sempre se não colabora-se.
Em uma das conversas entre Matt (o tal policial) e Alice, ele conta que é um ativista e que sua irmã estava infiltrada na Colmeia para roubar o vírus e expor a corporação. Alice era o contato dela, mas algo deu errado e ocorreu o incidente antes que ela pudesse roubar o experimento.
Mais tiroteios ocorrem, o hacker acaba ficando para trás e a equipe deve continuar para sairem a tempo, pois a porta foi programada para ser selada em três horas caso eles não consigam sair, a ideia era conter o incidente mesmo que custe a vida dos soldados.
Agora você se pergunta: se a Umbrella sabia do incidente, por que não avisou os soldados? E por que cargas d’água enviou só meia dúzia de cientistas para abrirem o laboratório no segundo filme? Esse é um furo grave na história de Paulzinho e fica cada vez mais inconsistente, porém, não vamos nos apressar porque ainda tem muito chão pela frente.
Durante o trajeto um membro da equipe, mais especificamente a Rain <3 (Michelle Rodriguez) é mordida uma dúzia de vezes e está quase indo pro saco. Eis que, Alice tem o flashback mais útil de sua vida e lembra que existe um anti-vírus.
Quando chegam no local para conseguir a cura, descobrem que o ladrão também a levou (Ah vá, é mesmo?) e eis que o marido de Alice tem o único flashback durante o filme todo em que ele lembra tudo de uma vez.
Spence (nome do maridão) escutou uma conversa de Alice com a irmã de Matt e iria ajudá-la a pegar o vírus para acabar com os experimentos do mal. Eis que o espertão resolveu roubá-lo antes para vender e ficar rico, causando a infecção geral para ninguém persegui-lo. Alice fica possessa da vida, mas o vilão consegue escapar com uma mordidinha básica no pescoço.
A Red Queen Bitch resolve falar com os aprisionados, revelando que um dos experimentos conseguiu escapar. Chamado de Licker, o monstrão só aparece no segundo jogo, mas ok, o filme e o jogo são diferentes a gente já entendeu. Continuemos…
Antes de conseguir se curar o maridão é devorado pelo monstrengo e a Rainha revela que não disse nada sobre o Licker pois não acreditava que eles chegariam tão longe e que, mais cedo ou mais tarde, o bicho mataria todo mundo.
O maridão havia atirado na trava da porta e a Rainha diz que só irá revelar o código para abrir se o grupo matar a pessoa infectada, que no caso é a Michelle Rodriguez (poor Michelle). Alice pega o machado e fica sem saber o que fazer, enquanto o monstro tenta forçar sua entrada na sala onde estão presos. De repente, as luzes se apagam e a porta se abre… Era o hacker, ele usou o dispositivo para fritar os circuitos restantes da Rainha vermelha e poderem fugir.
Eles injetam o anti-vírus na Rain, mas a coitada foi mordida tantas vezes que não teve efeito. O Licker ataca o trem no qual estão fugindo, sendo que agora ele está mais rápido e mais forte devido ao DNA que ingeriu (isso é uma particularidade do filme). O bichão mata o hacker e arranha o Matt, depois de uma batalha bem legal somente Alice e Matt conseguem sair.
Nossa heroína começa a se lamentar pelas mortes do pessoal que ela mal conhecia mas já considerava pacas e Matt tenta consolar essa bad. Do nada, Matt começa a se transformar e antes que consigam curá-lo a equipe médica da Umbrella chega e sequestra os dois. O chefe médico coloca Matt no programa Nemesis e começa a realizar experimentos em ambos.
O filme termina em uma cena suber badass na qual Alice acorda nudes no hospital de Raccoon City e tudo está destruído. Já conseguimos adivinhar o qual é o gancho para o próximo, né? Que danada essa Umbrella!
Como o jogo termina
O primeiro game termina com a fuga de Rebecca (da equipe Bravo), Chris, Jill e Barry (da equipe Alpha). Porém, a mansão foi destruída em uma explosão e com ela todas as provas que incriminam a corporação. Cabe agora aos sobreviventes tentar provar os terríveis experimentos ilegais que eram feitos na propriedade da Umbrella.
Errar é humano
Erros de continuidade acontecem com frequência e os filmes de RE não são exceção. Você confere alguns agora:
Logo na cena de abertura, quando o maridão joga o frasco com o T-vírus, o vidro bate na quina da mesa se partindo em dois. O problema é que alguém andou futucando os cacos de vidro tudo! Olha só:
Já num basta ser um vírus mortal, tem que ir lá cutucar?
Ao encontrarem o maridão, Alice tem o flashback de seu casamento e tira sua aliança para dar uma olhadinha, ela percebe que está escrito “propriedade de Umbrella Corporation” na parte interna do anel, pois o casamento era forjado para os dois protegerem a entrada secreta.
Entretanto, quando o maridão está transformado em zombie ela o mata com uma machadada na cabeça e joga sua aliança no chão. E adivinhem? Não tem nada escrito!
Na cena em que estão discutindo sobre religar a Rainha Vermelha, um close bem descarado é dado no corredor dos lasers (onde o povo foi picotado) e não tem nada lá! Nem um resto de braço, sangue, nada! O corredor está limpinho.
Entendemos que zumbis levantam e saem andando por aí, mas até os que estão sem cabeça? E teoricamente falando, o esquadrão suicida entrou ali depois, ou seja, eles não estavam infectados.
Curiosidades “malditas”
1. O filme foi gravado na Alemanha;
2. Os maquiadores disseram que foi muito difícil trabalhar com os cães, porque eles lambiam toda a maquiagem;
3. Michelle Rodriguez é gamer de carterinha e até encarou participar do filme Blood Rain, que também é uma adaptação de um game, mas o filme é tão zoado que é considerado um tutorial de como fazer um longa metragem da maneira incorreta;
4. O orçamento do filme foi de US$ 40 milhões, considerado alto para um filme de terror, conseguindo arrecadar cerca de US$ 100 milhões em bilheteria;
5. Antes de RE, não estreava um filme de zumbi no cinema por pelo menos 15 anos;
6. Paulzinho e Milla Jovovich começaram a namorar durante as filmagens, hoje são casados e têm dois filhos;
7. Anderson se arrependeu de matar a personagem de Michelle logo no primeiro longa, mas o arrependimento passou depois de ver o visual incrível dela zumbificada! Ao que parece o arrependimento voltou e ela aparece novamente no quinto filme;
8. Existe um trailer fake de RE rolando no youtube há um tempão e as pessoas acreditam que é real, se você ver o vídeo abaixo com o título de RE7, 8, 9, etc, não se desespere! Ele é o final alternativo do primeiro longa, no qual Alice consegue escapar e tenta resgatar o Matt;
9. Paulzinho se inspirou fortemente no conto de “Alice no País das Maravilhas” e existem várias referências durante o filme:
Começando pelo mais óbvio, o nome da protagonista é Alice
Ela acorda nudes no banheiro e o piso é bem semelhante com o do filme da outra Alice.
Aliás, toda essa ideia de não saber quem é e ter que entrar em um “buraco” para se auto-conhecer enfrentando diversas criaturas já é outra referência;
A Rainha Vermelha faz referência a personagem de mesmo nome do conto de fadas. Na cena em que ela pede para matarem a pessoa infectada, Rain se posiciona de forma que Alice corte sua cabeça com o machado;
Durante os flashbacks de Alice, ela relembra de diversos experimentos do laboratório que foram feitos com coelhos.
Vale a pena?
Por mais incoerências que existam, “O hóspede Maldito” é o filme que mais se aproxima da essência do game. Na primeira vez que assisti, fiquei vidrado na tela para tentar descobrir quem roubou o maldito vírus e o desenrolar da história possui um ritmo bem equilibrado. Destaque para a cena de abertura que deixa qualquer um curioso pra saber o porquê de tanta carnificina.
As cenas de ação e terror estão na medida certa e a trilha sonora é sensacional, o clima dark do universo de RE já é transmitido logo na música de introdução.
O problema é que nos próximos filmes Paulzinho acaba destruindo a chance de se entender com os fãs da série deixando o enredo cada vez mais raso e sem sentido. Nas próximas análises irei apresentar outros pontos do porquê a franquia criada por PA não passa de um filme de ação mediano e uma péssima adaptação de videogame.
O post ficou bem comprido mas eu espero de verdade que tenham curtido, ele foi o que mais deu trabalho qui no blog e por isso peço que, se gostaram, não deixem de compartilhar.
Comente o que você achou do especial e se você concorda com os argumentos apresentados, participa aê pô! Nunca te pedi nada!
Angelo Prata
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