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Dicas Netflix: animações originais com personagens LGBTQIA+

Nhái, manas? Turu bom?

Nos últimos dias parei para ver algumas animações originais da Netflix. Mais especificamente o remake de She-Ra e O Príncipe Dragão. Nesses dois casos algo me chamou muito a atenção: representatividade! Vocês sabem que esse é um assunto bastante abordado aqui no Gayme Over, então eu não poderia deixar de comentar essas belezinhas.

She-Ra as Princesas do Poder

Confesso que nunca fui muito fã da personagem She-Ra e nem do He-Man. Parte disso é porque eu cresci nos anos 1990 e a animação já estava bem ultrapassada para a época. O desenho original estreou em 1986, mas envelheceu mal e até hoje me incomoda a movimentação robótica dos personagens.

O segundo fator que me fez desgostar do desenho é justamente a história. Tudo era bem superficial, sendo que a TV estava recheada de animações japonesas com enredos bem mais elaborados e interessantes. Mesmo assim, She-Ra se tornou um sucesso de público na época. Vendendo bonecas e outros inúmeros produtos.

Eis que, um belo dia, navegando pelo catálogo da gigante do streaming, resolvi arriscar e assistir a nova versão. E não é que a surpresa foi grande? A Dreamworks, responsável pelo remake, remodelou todos os personagens e alterou algumas histórias para atraírem o público atual. Além de expandir o universo e caprichar no quesito diversidade.

Atualmente com três temporadas, o seriado conseguiu dar mais seriedade a personagem, sem perder aquela essência de desenho infantil. Prova disso é que os corpos esculturais do original, foram substituídos por crianças de verdade. Entre os coadjuvantes, acredito que dois mereçam um destaque especial.

Arqueiro

O arqueiro deixou de ser aquele senhor todo bombado, para se tornar um garoto meigo e negro! Sim, as etnias também são variadas no remake. E não é só isso: ele foi criado por pais gays! Fiquei chocado (no bom sentido) quando vi a forma que eles foram apresentados.

Arqueiro escondia sua verdadeira vocação de seus pais, com medo de ser reprovado por eles. Mas em nenhum momento no episódio 2×7 foi questionado o motivo dois homens juntos criarem uma criança. Até porque isso não importa. E é nesse ponto que o remake me ganhou, pois tudo foi tratado com a naturalidade que devia ser no mundo real.

Parei para refletir sobre o episódio e cheguei a uma conclusão: se fosse uma criança na vida real, será que ela se importaria? Provavelmente não! E esses casos podem ser chocantes para nós, adultos, que não tivemos esse tipo de representatividade na infância. Para os pequenos, era só mais um episódio divertido de um desenho animado.

Cintilante

A outra personagem que gostaria de destacar é Cintilante, uma garota com um senso de justiça inabalável, carinhosa e com todas as características que uma heroína deveria ter. Porém, não foram esses fatores que me impressionaram, mas o fato de seu corpo ser fora dos padrões!

Novamente me peguei pensando: quantas heroínas ou heróis gordos temos nos desenhos? Lembrei apenas de Steven Universe e só! Claro que podem haver mais, o que não muda o fato de que eles são raros! Muito raros! Depois disso não consegui mais parar de admirar She-Ra e as Princesas do Poder, pois é tão sutil com suas referências que até os pais da “família tradicional” brasileira podem não perceber o “lacre”.

Felina e She-Ra lésbicas futuristas?

É óbvio que eu não fui o único a perceber isso, mas rola um clima super intenso entre a Adora e a vilã Felina. Todo o fato de que as duas foram criadas juntas, mas tratadas de jeitos diferentes, contribui para uma carga dramática incrível. O sentimento de amizade das duas sempre falando mais alto nos momentos de perigo, criando uma tensão no espectador que fixa na ideia de um romance.

A grande questão é: a Netflix vai ter culhões para isso? Um desenho infantil, no qual as duas personagens principais se envolvem romanticamente não irá chocar demais os “conservadores”? Talvez! Posso estar teorizando muito e no fim das contas tudo não saia da friendzone. O que não muda o fato de que o ship é real!

O Príncipe Dragão

Criado por Aaron Ehasz, um dos roteiristas de Avatar: A Lenda de Aang, o Príncipe Dragão tinha um problema muito nítido: a taxa de quadros era tão baixa que parecia um stop motion. Felizmente, isso foi melhorado na segunda temporada.

Seu enredo segue a mesma base de Avatar, com cada temporada representando um elemento dos livros de magia. Até mesmo a jornada dos três protagonistas é bem parecida com o sucesso da Nickelodeon. Vale reforçar que O Príncipe Dragão não é uma cópia e possui sua própria identidade.

Resolvi falar sobre essa animação original Netflix porque, novamente, fui fisgado por dois casos de representatividade raros em desenhos. A primeira é a tia dos protagonistas, Amaya. E a segunda é a rainha Aanya, de Duren.

Amaya

General do exército, forte e independente. Amaya é outra que carrega todas as características dos heróis comuns, se não fosse por um pequeno detalhe: ela é muda. Uma característica pouquíssima explorada em qualquer tipo de mídia sendo filmes, séries, games ou desenhos tornou Amaya uma das personagens mais interessantes.

Apesar de sua participação ainda não ser muito recorrente, sua primeira aparição me encheu de alegria. É algo tão inovador que muito provavelmente somente a Netflix ou o Cartoon Network permitiriam. E mais uma vez, o que para muitos seria um problema, no desenho é encarado com enorme naturalidade.

Como nem todos entendem a linguagem de sinais, ela conta com o seu fiel soldado Gren para fazer as traduções. Esse que a admira incondicionalmente por sua força, coragem e honestidade. Amaya foge dos estereótipos de personagens femininas e acabou se tornando um marco na indústria e na representatividade de pessoas com a mesma deficiência.

Aanya

Outro exemplo que foge do comum é a rainha de Duren, que já possui uma postura adulta – apesar de sua idade. Durante sua aparição nos episódios 2×5 e 2×6, mostrou uma inteligência sem tamanho. Tudo isso se deve as inúmeras tentativas de golpe que sofreu por ser uma menina órfã.

Falando em seus pais, ou melhor mães, Aanya é mais uma personagem criada por lésbicas. As rainhas, Annika e Neha, aparecem em flashbacks nesses mesmos episódios. Em um momento decisivo da trama, com diversas revelações, novamente a sutileza toma conta da produção. Sem questionamentos, sem dúvidas, sem explicações. As rainhas viveram seu amor em um mundo fictício que aos poucos vem sendo encarado da mesma forma na realidade.

Será muito interessante ver mais sobre essa família na próxima temporada, que tem estreia prevista para 2020.

Por mais animações assim

É simplesmente impressionante ver como alguns produtores tem um cuidado especial quando o assunto é representatividade. O que eu citei no texto foram apenas alguns exemplos, os dois desenhos possuem muito mais! Também não quis focar muito nas tramas para evitar spoilers e atiçar sua curiosidade.

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Angelo Prata

Jornalista apaixonado pela arte do século XXI chamada de videogame. Tentando melhorar a internet um post de cada vez, este sagitariano que vos fala tem dificuldades em escolher um jogo favorito. As séries Super Mario, Resident Evil, Donkey Kong e Mass Effect estão no top da minha lista imaginária e sim, sou fã da Nintendo!
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