Lançado originalmente em 2016, Persona 5, o mais recente capítulo da série de RPGs da Atlus ganhou uma versão repáginada em outubro de 2019. Em sua primeira versão, o jogo incomodou a comunidade LGBTQIA+ com uma cena de assédio sexual involvendo um personagem menor de idade e dois homens gays. De maneira claramente preconceituosa, o jogo retratou os gays como se fossem predadores sexuais.
A produtora ouviu as reclamações alterando a cena para outro contexto. Mesmo assim, os personagens gays ainda são retratados como assediadores. Pode se dizer que de uma forma mais “leve”, o que não altera o longo histórico de preconceito que nós sofremos ao longo da história.
Como foi no Persona 5 Original
Na versão de 2016, o jogo mostra o personagem Ryuji sendo abordado por dois homens claramente gays (eles não são nomeados no jogo). Isso acontece durante uma visita obrigatória no jogo à Shinjuku. Os dois então começam a comentar o quanto acharam o garoto atraente, mesmo percebendo que ele é menor de idade. Ryuji fica desconfortável com os comentários e repete várias vezes que não está interessado nos dois.
Apesar das tentativas de escapar, os dois agarram Ryuji enquanto a tela escurece e o personagem grita “Me soltem”, deixando explícito uma cena de abuso sexual no game. Além de ser uma cena desnecessária, ela retrata os gays como predadores sexuais e reforça estereótipos que eram muito propagados nos anos 1980 e 1990, retratado de forma brilhante na série de TV Pose.
A tentativa de corrigir os erros na versão “Royal”
Já na nova versão, os assediadores ganharam nomes: Angel e Julian. Dessa vez a interação com eles deixa o tom sexual de lado, mas ainda sim é preconceituosa e desconfortável. Em “Royal”, enquanto Ryuji está em frente um bar LGBTQIA+ com drag queens chamado “Crossroads”, ele comenta que não poderia entrar por ser menor de idade e que está com o uniforme escolar. E é nessa hora que Angel e Julian aparecem.
Distorcendo toda a situação novamente, os dois acham que Ryuji está com vontade de se montar, mas não tem coragem. Forçando o personagem novamente a fazer algo que não quer. Eles agarram o garoto, a tela escurece e ele solta um grito. Não deixa de ser uma cena de assédio, mesmo que o contexto sexual tenha sido deixado de lado.
O perígo dos estereótipos
Representações da nossa comunidade com esse estereótipo não são uma novidade. O problema maior é fazerem isso em pleno século 21, com tanta informação sobre preconceito e desrespeito disponível. Se você é LGBTQIA+ provavelmente já escutou dos seus amigos, ou parentes, que alguém te influenciou a ser assim.
Cenas assim reforçam esse problema, além de deixar uma imagem da falta de representatividade dentro da própria empresa. É muito difícil imaginar que, se um LGBTIA+ estivesse na equipe de desenvolvimento, deixaria esse tipo de conteúdo extremamente ofensivo passar. Como citado anteriormente, nos anos 1980 e 1990, um dos argumentos principais dos preconceituosos era de que os LGBTQIA+ “convertiam” os jovens da época.
É importante elogiar a tentativa da Atlus em corrigir o erro, mas não dá mais para aceitar esse tipo de representação em qualquer mídia que seja. Ainda mais duas vezes seguidas! Faltou o principal, que era consultar algum membro da nossa comunidade para apontar se a cena possui algo desrespeitoso, o que claramente não foi feito.
No anime é ainda pior
Mesmo com as críticas, a cena foi mantida na série animada baseada no Persona 5. E deixa ainda mais explícito o assédio sendo usado como uma forma de humor ofensiva e desnecessária.
Via: Polygon
Angelo Prata
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