O momento de “sair do armário” é algo que todo LGBT irá passar em algum momento da vida. Enquanto a hora não chega, ficamos tentando a todo custo esconder nossos trejeitos femininos como se fosse uma doença contagiosa da qual ninguém pode saber. Depois de todo o percurso até a aceitação da família e de si mesmo, passamos por um outro processo de validação: a feminilidade das outras pessoas.
Afinal, é comum encontrar gays que só se contentam com companheiros dignos de estampar a capa da G Magazine. Esnobando os outros por não se encaixarem no padrão de beleza do “homem perfeito”. Essa foi uma das coisas que mais me decepcionou quando eu me assumi, e confesso que, por um bom tempo, segui essa linha de pensamento. Só quando me abri para conhecer as pessoas de verdade percebi o quanto estava errado. Fiz amigos incríveis, me relacionei com pessoas maravilhosas e acabei acordando para o alto nível de preconceito que existe dentro da comunidade LGBT.
Respeita as manas, as minas e as monas
Comecei a pensar melhor sobre o assunto e me dei conta do quanto somos hipócritas em diversas situações. No caso de nós, gaymers, exaltamos as personagens femininas como se elas fossem verdadeiras divindades. Analisamos seus looks, fazemos cosplays e as admiramos como ídolos imaculados. Isso vale também para os outros papéis do mundo pop em geral: cantoras, heroínas de quadrinhos e séries, figuras políticas, etc.
É como se o nosso ideal de pessoa certa para relacionamentos fosse exatamente o modelo de masculinidade que tanto nos fez sofrer na infância e adolescência. Nos aplicativos de relacionamento a coisa fica ainda pior, porque muitos ainda acreditam que a internet é uma terra sem lei. Vários perfis destilam seu preconceito disfarçado de “preferências” listando características físicas e pessoais absurdas, que incluem os afeminados e uma série de outras particularidades que não se encaixam no padrão de beleza.
“Não curto gordos, afeminados, asiáticos, negros”. Essa frase tornou-se uma rotina frequente em praticamente todos os espaços virtuais dedicados especialmente para se relacionar. Chega a ser irônico. A forma como nos privamos de ter novas experiências e conhecer pessoas por causa daquilo que mais nos faz sofrer: o preconceito. Por isso, é importante sempre ter em mente que não podemos reduzir os outros a uma simples cor de pele, volume da barriga ou timbre de voz.
Já está mais do que na hora de mostrarmos como podemos começar essa mudança não é mesmo? Afinal, quem melhor para derrubar as barreiras do ódio e da intolerância do que as pessoas que vivem isso na pele diariamente. Sei que o texto de hoje não teve muito a ver com games, mas esse e outros assuntos são importantes e devem ser discutidos dentro da nossa comunidade.
Agora eu gostaria de saber de vocês. Já sofreu preconceito de outro LGBT por ser afeminado? E por que temos tanta dificuldade em aceitar a nossa própria feminilidade? Bora abrir essa discussão aê, manas!
Arte da Flea por Seraphim-ZeroX
Angelo Prata
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