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Tomb Raider: 4 coisas que queremos ver nos próximos games da franquia

Dois anos se passaram desde o lançamento the Shadow of the Tomb Raider e seguimos acompanhando nossa querida Lara, se aproximando cada vez mais com a personagem que conhecemos nos primeiros jogos lançados nos anos 1990. O reboot possui muitos pontos positivos, porém ainda tem muita coisa para melhorar. Seguem abaixo 4 coisas que queremos ver no próximo TOMB RAIDER:

1 • Roteiro menos clichê

Em março de 2013 foi lançado TOMB RAIDER, reboot da série que estreou originalmente em 1996, e foi muito bem recebida pelo público em geral. O jogo apresenta essa nova Lara em uma ilha cheia de perigos, onde matar não era uma opção, mas uma necessidade.

A ambientação do jogo no estilo “survivor”, até então pouco explorado na franquia anterior, fez bastante sucesso. Conhecemos uma Lara bem diferente da que estávamos acostumados a ver. Invés de uma mulher madura, atlética e armada até os dentes, fomos apresentados a uma Lara nova, inexperiente, ingênua, cheia de dramas pessoais e buscando obter respostas.

Essa abordagem deu uma nova perspectiva para a protagonista da série e bastante campo para ser desenvolvido. Isso acabou agradando não apenas os fãs, mas também um grande público que até então não estava interessado na franquia. Apresentar essa personagem extremamente vulnerável em uma ilha, buscando sobreviver de qualquer forma, pareceu bem atraente e desde então todas as sequências continuaram apostando nessa narrativa de sobrevivência.

Tomb Raider
Tomb Raider (2013)

Desde os primeiros jogos temos momentos onde Lara se encontra em situações de vulnerabilidade, seja ela era capturada, inconsciente ou deixada sem seus equipamentos. É nostálgico para quem acompanha a franquia desde o início se deparar com esses trechos, porém, ao jogar o terceiro jogo da nova série fica a sensação que o mesmo plot vem sendo utilizado vez após vez.

Todo jogo se inicia com um acidente catastrófico (seja um barco naufragando, uma avalanche ou queda de avião), em seguida temos uma Lara perdida e ferida buscando algum meio de sobreviver utilizando táticas primitivas.

Como essa narrativa fez tanto sucesso em 2013, parece que os produtores optam por utilizar repetidamente a mesma receita com algumas pequenas alterações, mas contar esse mesmo roteiro três vezes seguidas tem tornado o jogo pouco surpreendente. Explorar a vulnerabilidade de um personagem é algo importante, e existem diversas formas de fazer isso sem ter que recorrer a receitas repetitivas.

Tomb Raider 1
Naufrágio, avalanche, queda de avião… quantas catástrofes mais o jogo pode inventar?
(Tomb Raider 2013 / Rise of Tomb Raider 2015 / Shadow of the Tomb Raider 2018)

O roteiro clichê também se repete na reta final do jogo. Lara descobre uma cidade ou vila perdida com guerreiros místicos, e encontra o artefato que foi procurado durante o jogo inteiro. Logo em seguida, temos alguns momentos de tensão para chegar a conclusão de que o melhor é manter o artefato em segredo e ir embora para casa.

Infelizmente o uso de clichês parecem ser uma característica usual da prdotura Eidos, responsável pelo desenvolvimento dos títulos. A impressão que fica é que TOMB RAIDER sofre do mesmo mal que Assassin’s Creed, outra franquia que carece de inovação na história. Por isso esperamos que o próximo Tomb Raider não repita as mesmas narrativas. Afinal, quantas catástrofes se podem inventar?

2 • Gameplay mais desafiador

Quem jogou os primeiros games da antiga franquia já ficou horas tentando resolver um enigma ou calculando milimetricamente saltos para chegar a um ponto. Entretanto, o tempo foi passando e em uma tentativa de acompanhar o estilo dos seus competidores, Tomb Raider acabou perdendo sua essência. O que antes era desafiador, passou a ser fácil demais. Puzzles já vinham com diversas dicas, objetos interativos piscavam na tela subestimando a capacidade do jogador de soluciona-los por conta própria.

Somado a isso, os jogos passaram a focar cada vez mais nos momentos de ação. Dando espaço a cenas de tiro e explosões, deixando a exploração de lado. Lara deixou de ser uma arqueóloga e passou a ser uma agente secreta em uma “missão impossível”.

Tomb Raider 2
Puzzles fáceis e foco em momentos de ação fizeram a franquia perder sua essência.
(Tomb Raider Legends 2006 / Tomb Raider Chronicles 2000)

É importante lembrar que TOMB RAIDER é fortemente inspirado na série Indiana Jones, grande parte do fascínio e popularidade do jogo veio justamente por apresentar enigmas, escapar de armadilhas, explorar o ambiente e revelar segredos. Esses são elementos fundamentais da saga.

Com o recomeço da série o elemento exploração felizmente foi retomado, o jogo passou a ser menos linear e mais aberto. Introduziram áreas de exploração opcionais, línguas a serem aprendidas e enigmas a serem decifrados. São nesses momentos que conseguimos enxergar uma Lara arqueóloga.

A cada novo jogo da série a complexidade dos desafios vem sendo aprimorada cada vez mais, transportando os antigos fãs da série aos nostálgicos momentos de solidão, silêncio e concentração, enquanto resolvem mais um desafio. Os puzzles também se tornaram mais interessantes e complexos envolvendo elementos físicos como vento, água e fogo. Shadow of the Tomb Raider pode não ter sido tão inovador quanto o primeiro, lançado em 2013, só que apresenta os melhores puzzles da série até o momento.

Devido aos diversos tipos de jogadores, muitos deles não interessados em passar horas decifrando um enigma, foi uma decisão inteligente o game apresentar opções de dificuldade. Como remoção de dicas ou marcas nas paredes indicando onde você deveria se agarrar (por sinal, recomendo muito remover caso você queira uma experiência mais próxima à saga original). Se aprofundar nas diferentes formas de customização de dificuldades e acessibilidade deve ser uma meta.

Precisamos citar também que o jogo deixa a desejar na física em diversos momentos, como se estivesse te ajudando a saltar mais alto ou mais rápido, principalmente quando tudo desmorona ao seu redor. Alguns movimentos executados pela Lara são dignos de um filme hollywoodiano, fazendo com que a experiência do jogo acabe sendo irrealista de forma desnecessária. Ainda mais quando é repetido diversas vezes ações como: escalar um rochedo de ponta a cabeça ou pular de uma geleira para a outra. 

Tomb Raider 3
Escalar um penhasco de ponta a cabeça? sem problemas.

Outro ponto a ser aprimorado é o combate que sempre aparenta pouco desafiador, o modo stealth do jogo parece ridículo em alguns momentos. Inimigos mais inteligentes e diversos aliados em um combate mais avançado sempre é uma boa pedida.

A árvore de habilidades também é outro ponto que precisa de atenção, em 3 jogos temos a opção de usar arco e flecha, mas em cada jogo precisamos desabilitar a habilidade de poder atirar simultaneamente em mais de um inimigo, isso não faz muito sentido quanto a construção de um personagem e do que ele é capaz de fazer. Se no primeiro jogo isso já era possível, por que no segundo e terceiro isso deixa de ser?

Habilidades precisam ser repensadas ou substituídas por outras que se apliquem ao ambiente do jogo, um bom exemplo foi a competência de fabricar flechas com venenos de insetos locais, por exemplo. Dessa forma teremos um gameplay mais desafiador, forçando o usuário a pensar em diferentes estratégias, além de somar com conhecimentos adquiridos em jogos anteriores.

As vestimentas encontradas no jogo também não são recompensadores e apresentam poucas vantagens além de uma básica customização, o mesmo podemos falar sobre as diferentes armas oferecidas que, apesar de oferecer upgrades significativos, não fazem sentido para a Lara ter um imenso arsenal de armas de fogo. Assim como na franquia original, seria muito mais interessante apresentar um tipo de arma por categoria e que esse fosse sendo aprimorado durante a jornada.

Tomb Raider 4
Galeria de armas
Shadow of the Tomb Raider 2018 / Tomb Raider 1996

3 • Desenvolvimento de personagens

Pouco a pouco a Lara vem se aproximando daquela que conhecemos inicialmente na década de 1990. Mais inteligente, confiante e habilidosa, porém um dos elementos que esperamos ver se desenvolvendo nos próximos jogos seria sua preparação, não somente intelectual, mas também física.

Nos primeiros jogos a Lara corria, se pendurava em barras e atirava enquanto realizava um mortal de costas. Sua mansão possuía espaços de exercício e treino. Essa característica na Lara sempre foi tão marcante que foi incluída nos filmes.

Tomb raider I / Tomb Raider Anniversary / Tomb Raider movie

Na nova série faz sentido que a Lara não tenha muito condicionamento físico para realizar algumas façanhas, afinal ela nada mais era do que uma jovem arqueóloga. Entretanto, três jogos se passaram e continuamos a ver uma Lara desastrada. Optar por uma personagem menos atlética talvez seja proposital por parte da Eidos (produtora do jogo), se distanciando da Lara original, e se aproximando do que poderíamos chamar de “versão feminina do Nathan Drake”, da concorrente Naughty Dog, com UNCHARTED.

Mesmo assim, acredito que introduzir uma Lara mais atlética nos próximos jogos irá agradar a gregos e troianos, ajudando inclusive a destacar a Lara como personagem único, capaz de resolver problemas que envolvam tanto o cérebro quanto o corpo, estando assim um passo a frente dos seus oponentes. Esperamos que a Eidos não pense apenas no novo público, mas também dos jogadores mais antigos e fiéis. Tomara que, assim como retomaram o caráter explorativo do jogo, eles também retomem esse aspecto da Lara dentre alguns outros. No final, a pergunta que não quer calar é: quando vamos poder atirar com duas pistolas ao mesmo tempo?

Melhor cena de todo o reboot. Sim ou com certeza?
(Tomb Raider 2013 / Tomb Raider I 1996)

Shadow of the Tomb Raider terminou sugerindo que o passado da Lara ficou para trás, toda a trama do assassinato do Richard Croft estava a ponto de ser mais repetida que a morte dos pais do Batman. O último jogo mostrou também que a Lara entendeu que vidas importam mais do que suas obsessões, culminando até mesmo em um sacrifício simbólico no final.

Esperamos que no próximo jogo da série não tenhamos que nos deparar com mais flashbacks da Lara encontrando seu pai morto, que esse seja um capítulo encerrado na sua vida e possamos passar para as próximas páginas, talvez explorando novos questionamentos como as mortes que ela causou e buscando não repetir os mesmos erros do passado. 

Até quando teremos uma Lara atormentada pelo seu passado?
(Shadow of the Tomb Raider: DLC The Nightmare)

4 • Roteiro mais caprichado

Um dos pontos baixos na nova franquia são os roteiros inconsistentes. Me atrevo a dizer que Shadow of the Tomb Raider foi o que mais me decepcionou, conseguindo transformar o que era uma super organização secreta milionária em um grupinho infiltrado em uma vila no meio do  Peru. Tendo como líder um membro de uma cidade perdida e praticamente jogando no lixo todo o desenvolvimento que vinha sendo feito nos últimos jogos.

Além de diversas falhas de roteiro — como a constante e inexplicável presença da Trindade em diversos lugares, até então somente descobertos por Lara — não fica claro para o jogador como de fato o mundo vai ser destruído, do que se trata a profecia, como a Trindade pretendia reconstruir o mundo, dentre outras coisas. No final tudo me pareceu preguiçoso, prepotente e superestimado. Terminei com mais dúvidas do que quando comecei.

Ao mesmo tempo que o jogo tenta trazer certo realismo e imersão, disponibilizando falas em dialetos locais, ele não explica como a Lara, uma jovem britânica, conversa qualquer pessoa da vila. O jogo chega até mesmo ao ponto de fazer com que a Lara “se passe” por uma local apenas por estar com uma máscara no rosto.

É uma pena deixar de presenciar momentos muito interessantes da Lara aprendendo o dialeto, se esforçando em entender a língua e estabelecer conexões com nativos, a maior prova disso é que os melhores momentos do jogo se dá com os Yaaxil, onde ela não fala seu dialeto e ainda assim no final ambos conseguem se comunicar. Infelizmente o jogo optou por um roteiro raso, no qual sua vivência com o povo se limitou a experimentar suas roupas e todo um potencial acabou sendo jogado pelo ralo.

Lara se comunicando com a rainha Yaaxil
(Shadow of the Tomb Raider)

O jogo também acaba pecando em excessos cinematográficos, como despencar de um avião sem sequer um ferimento, ou ser brutalmente atacada por uma onça e depois se levantar como se nada tivesse acontecido. Os encontros com a Trindade nunca parecem ameaçadores: ao mesmo tempo que querem matar a Lara, quando a capturam decidem deixa-la viva sem grandes explicações.

Diga-se de passagem, faltam inimigos desafiadores em geral. Em todos os jogos da saga desde o reboot somos apresentados a guerreiros místicos mortais, e de alguma forma inexplicável Lara consegue derrotar a todos sozinha, com relativa facilidade. Nem mesmo mercenários armados até os dentes conseguiram.

“Não liga pra onça não, ela é brincalhona assim mesmo.”

Outro ponto falho no roteiro é a banalidade com a qual Lara mata seus inimigos. Para uma garota de 20 e poucos anos ela carrega um grande cemitério nas costas. No primeiro jogo lançado em 1996, Lara passa por um grande conflito moral ao matar em legítima defesa um dos mercenários contratados por Natla, vilã do jogo.

No reboot o jogo fez um belo trabalho ao retratar a primeira vez que ela mata um inimigo, a carga moral que vem com essa decisão e como ela é afetada durante o restante da campanha, mesmo sendo em uma questão de vida ou morte.

Apesar desse drama também ser abordado no game lançado em 2013, no segundo e terceiro jogo acabamos assassinando pessoas que sequer sabemos de fato quais suas intenções, incluindo diversos nativos da região que foram apenas contratados pela Trindade. Em um dos DLC’s do jogo essa culpa chega a ser apresentada em um momento de alucinação da Lara, onde ela é atormentada por vidas ceifadas, desenterrando ela mesma em um momento The walking dead

Primeira morte causada por Lara
(Tomb Raider Anniversary 2007 / Tomb Raider 2013)

Desde o início da série anterior o ambiente era até então seu maior inimigo. Armadilhas e animais selvagens eram seus maiores desafios e eventualmente você encontrava inimigos humanos. Conforme outros jogos da franquia foram sendo produzidos, mais ele se distanciava de sua essência, Lara se transformou aos pouco em uma assassina de sangue frio.

Seria muito triste ver a franquia atual cometer o mesmo erro da anterior. Nesse aspecto, espero que o final do jogo tenha sido um sinal de que isso vem sendo repensado pela produtora. Torço para que nos próximos jogos decisões como matar ou não uma pessoa sejam abordados com a profundidade necessária. Afinal, a Lara é acima de tudo uma arqueóloga e não assassina profissional.

Se me atacar eu vou atacar

Por falar nisso, a Lara da franquia atual é uma péssima arqueóloga, praticamente todos os lugares encontrados por ela acabam desmoronando ou explodindo a ponto do próprio jogo fazer piada sobre isso. Como quando a Abby pede para que Lara não destrua nada. Seria interessante eles trabalharem um personagem que se preocupa em preservar sítios históricos, trazendo mais veracidade ao jogo e a identidade do personagem.

É verdade que os jogos anteriores não são famosos por uma história super bem escrita, entretanto, estamos em 2020 e o público que consome jogos é muito mais exigente nesse aspecto.  Principalmente quando temos jogos como God of War e The Last of Us. Jogos que além de excelentes gráficos, também trazem um enredo impecável. A verdade é que impressionar apenas com bons gráficos hoje já não é o suficiente. Se a história não for bem escrita, todo esse esforço pode fazer tudo ir por água abaixo.

Preservação da história pra quê?

Conclusão

Lara Croft sempre terá um lugar especial nos nossos corações, que os próximos jogos da geração consigam seguir com a franquia sem perder de vista a sua essência, que consigam inovar e surpreender, construindo e desenvolvendo essa nossa personagem tão querida, que em 2020 completa 24 anos desde o seu primeiro lançamento.

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Designer, gaymer, escorpiano, viciado em café e jogos de luta e aventura. Brasileiro atualmente residindo nos EUA. Entre meus jogos favoritos estão: Bayonetta, Tomb Raider, Tekken, Zelda e The Last of Us.
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