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Os filmes em live-action da Disney são verdadeiros divisores de águas. Pois mesmo que a maioria tenha a qualidade questionável, são sempre sucessos estrondosos de bilheteria. Talvez, se não fosse a pandemia, esse também seria o destino de Mulan.

O longa deveria estrear nos cinemas em março, mas foi adiado diversas vezes por conta da Covid-19. As pré-estreias já tinham ocorrido, e os críticos especializados até elogiaram bastante o filme. Chegando a acumular uma pontuação de 80% no Rotten Tomatoes.

Entre as polêmicas da produção, tivemos a intérprete de Mulan (Liu Yifei) apoiando a repressão policial nos protestos em Hong Kong, o que gerou pedidos de boicote ao live-action. E também a decisão dos produtores de fazer uma história mais séria, sem os personagens carismáticos da animação como o dragãozinho Mushu. Este último sendo, até então, a menor das minhas preocupações.

Apenas um live-action da Disney conseguiu me conquistar por inteiro: Alladin (2019), que uniu novos elementos e reformulou a história para os tempos atuais, tornando o enredo ainda mais grandioso. Em Mulan, vemos essa mesma tentativa, mas parece que faltou cuidado da direção e dos roteiristas na hora de recontar a famosa fábula chinesa.

Uma guerreira de nascença

Mulan 3

Mulan (Liu Yifei) é uma jovem destemida que vive em um pequeno vilarejo, na época das grandes guerras entre os povos da região. Como não teve filhos homens, o pai de Mulan, Hua Zou (Tzi Lin), aproveitou o interesse da menina por artes marciais para treiná-la desde pequena. Atitude que sua mãe, Fa Li (Rosalind Chao), sempre reprovou.

Enquanto Hua Xiu (Susana Tang), irmã de Mulan, era uma jovem doce e delicada como era de se esperar de uma mulher. A protagonista passava o dia explorando suas habilidades e causando espanto nos vizinhos por ser muito diferente.

Até que em sua fase adulta, um chamado do imperador para a guerra exige que cada família envie um homem para lutar pelo império. A guerreira decide então ir no lugar de seu pai disfarçada de homem, que está muito idoso, para evitar que ele se arrisque.

Como é possível ver pela sinopse, a história é basicamente a mesma da animação. Com exceção da adição da irmã de Mulan, que aparece por poucos momentos no início do filme. É interessante a ideia de que a protagonista sempre foi uma guerreira nata, que teve que esconder seus talentos para se encaixar em um “padrão” de mulher aceito pela sociedade da época.

Porém, o que me intrigou foi a existência da irmã. Ela não agrega em nada na história. Se Hua Xiu não existisse, não faria diferença, já que ela é pouquíssimo explorada. Usada apenas para uma cena do início que, poderia ter sido qualquer outra coisa para que ela acontecesse da forma que aconteceu.

Se a intenção foi fazer um contra-peso em comparação a Mulan, mostrando como uma mulher “descente” deve ser, isso também falhou. Já que além da fala da mãe elogiando a filha mais nova, nada demais foi mostrado. Então a dúvida que ficou pairando sobre minha cabeça é: pra quê serve essa personagem?

Sério sim, mas sem carisma

O problema com os personagens citados acima se extende para muitos outros. Posso citar também os amigos de Mulan no acampamento de treino, com exceção do crush da garota, Chen Asui (Yoson An), o restante tem pouca presença e não são carismáticos como no longa original.

Mulan 2020 4

A vibe feminista também marca presença, o que é ótimo, mas colocado de uma forma bem pobre. A nova vilã da trama, a bruxa Xian Lang (Gong Li) fala mais de uma vez o quanto é poderosa, mas obedece um cara nítidamente mais fraco que ela porque ele a salvou? Oi? Fiquei me perguntando como alguém com tais habilidades (mostradas no filme) não mostrou ao mundo do que era capaz, em vez de virar capanga de um vilãozinho bem meia boca.

Sei que esse não é meu lugar de fala e nem posso dizer como uma proposta feminista deve ser, mas as incoerências na trama realmente me incomodaram na hora de absorver a mensagem do filme: “Seja você mesmo”, “Não tenha medo dos seus talentos”, “Mostre do que é capaz”, tudo isso proferido da boca de alguém que vive se escondendo. Faz sentido? Para mim não.

Cenas lindíssimas, incoerentes e sem emoção

Mulan tem um lugar especial na minha memória afetiva, foi o primeiro filme que assisti no cinema quando tinha apenas 6 anos de idade. E a minha vontade de gostar do live-action da mesma forma era grande, mas a falta de emoção foi uma das principais características que me impediram de sentir a mesma alegria.

Estava nítido em minha mente, por exemplo, o drama e e a angústia de Mulan em ter a coragem de salvar seu pai. A noite chuvosa, o corte de cabelo com a espada, as lágrimas… Todos esses elementos me mostravam o quanto a jovem era relutante na decisão, mas teve que ser forte seguindo com sua escolha.

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Dessa vez, é tudo tão simples e direto que não me transmitiu o mesmo sentimento. Pelo contrário, não senti empatia por Mulan, não senti medo por ela em momento algum, pois ela já é super poderosa e raramente demonstrava medo. Talvez eu tenha sentido falta de acompanhar a jornada de amadurecimento da protagonista, me identificar com ela como alguém que supera dificuldades.

Outro ponto importante são as cenas de ação. Todas bélissimas visualmente, mas não chegam a impressionar como nos filmes chineses Herói (2002) e O Tigre e o Dragão (2000). Fica nítido ao assistir quem realmente tem habildiades impressionantes de artes marciais, mas que nem são aproveitadas devidamente.

Mulan também se teletransporta durante as batalhas, ela é capaz de correr distâncias sobre humanas, sem ninguém perceber e atacar sorrateiramente. Isso tira totalemente a coerência das lutas e mostra falta de cuidado na montagem e direção.

Mulan poderia ser muito mais, mas pairou na mediocridade

É realmente uma pena para mim que eu tenha que escrever um review tão cabisbaixo. Como fã, eu fiquei frustrado com a falta de cuidado que os produtores tiveram nos pontos que citei. Não senti falta das músicas, nem dos personagens fantásticos que foram removidos, senti falta de me emocionar com Mulan.

Pode até ser que minha opinião tenha sido influenciada pela diferença de idade, época em que o filme saiu ou a minha própria memória afetiva que me impediu de curtir a aventura como ela merecia. Mas assim como Alladin conseguiu se atualizar de forma primorosa, pensei que Mulan tinha esse mesmo potencial. Uma pena.

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Angelo Prata

Jornalista apaixonado pela arte do século XXI chamada de videogame. Tentando melhorar a internet um post de cada vez, este sagitariano que vos fala tem dificuldades em escolher um jogo favorito. As séries Super Mario, Resident Evil, Donkey Kong e Mass Effect estão no top da minha lista imaginária e sim, sou fã da Nintendo!
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