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REVIEW: The Last of Us Part II é uma experiência narrativa espetacular

Sete anos! Esse foi o tempo que o aguardado The Last of Us Part II demorou para ser lançado. Coincidência ou não, a sequência chega para encerrar mais uma geração do PlayStation, assim como seu antecessor. Em uma época que jogos de zumbis são lançados aos montes, TLOU chegou apostando pesado em seu enredo dramático e sombrio.

Com cenas de violência explícita, personagens cativantes e uma trilha sonora sublime do argentino vencedor do Oscar, Gustavo Santaolalla, o game vendeu surpreendentes 20 milhões de cópias e se tornou um fenômeno. Tamanho sucesso fez a HBO abrir os olhos para essa mina de ouro, que já confirmou a produção de uma série original baseada no game.

Esse review não contém spoilers além do que já foi mostrado nos trailers

Entre trancos e barrancos

The Last of Us Part II

O caminho até o lançamento de The Last of Us Parte 2 não foi fácil. Logo em 2014, menos de um ano do lançamento do primeiro game, choveram pedidos em cima de Neil Druckman, idealizador do projeto, para que uma sequência fosse providenciada o mais breve possível. Porém, Druckman não pensava dessa forma.

Apaixonado por contar e ouvir boas histórias, Druckman entendia que para superar um game tão grandioso é preciso tempo, pesquisa e ideias que sejam tão marcantes quanto o game original. Foi somente em 2015, durante o desenvolvimento de Uncharted 4: A Thiefs End, que o diretor deu aos fãs uma chama de esperança dizendo que a sequência estava nos planos.

Naquela época, o projeto de The Last of Us Part 2 era algo embrionário. Apenas ideias do que poderia ser feito e que abordagem a Naughty Dog – produtora do game – poderia focar. No ano seguinte, em 2016, eis que surge o primeiro trailer de TLOU 2 durante o evento PlayStation Experience. Ellie está mais velha, e diz a Joel que irá matar todos “eles”, enquanto toca seu violão com as mãos machucadas.

Nos anos que seguiram foram sendo revelados mais e mais trailers, aguçando a curiosidades dos fãs pela continuação da saga de Ellie e Joel. Eis que, em setembro de 2019, a data de lançamento é finalmente revelada: 21 de fevereiro de 2020. A felicidade, no entanto, foi por pouco tempo. Em outubro a Naughty Dog adiou o lançamento para maio, pois afirmaram que precisavam de mais tempo para refinar o jogo.

Chegamos a 2020, e com ele a pandemia de Covid-19. O jogo é adiado de novo, dessa vez para junho. A desenvolvedora afirmou que necessitava de mais tempo para evitar problemas de logística causados pela doença. Finalmente, eis que a grande data se aproxima e chegou a hora de contar como foi minha experiência ao jogar The Last of Us Part II.

Essa não é apenas uma história sobre vingança

Quatro anos se passaram desde os eventos do primeiro game. Ellie agora está com 19 anos e vive com Joel em Jackson. Cidade construída e mantida por Tommy, irmão de Joel, e sua esposa Maria. A jovem agora ajuda nas patrulhas para manter o local seguro, tem novos amigos e expressa ainda mais natureza rebelde.

The Last of Us Part II

Após o ataque de um grupo vindo de Seattle, Ellie decide partir para fazer os responsáveis pagarem pelo que fizeram. E é com essa premissa simples, que Neil Druckman “engana” o jogador, me fazendo pensar que se trata pura e simplesmente de “vingança”. Porém, conforme o enredo avança, fica nítido que TLOU 2 consegue ir muito além desse sentimento.

Como já conhecia Ellie, minha reação foi apoiá-la logo de cara, considerando a protagonista como heroína antes mesmo de entender o contexto em que tudo ocorre. A cada capítulo, o jogador é apresentado a novos fatos, novos personagens e comecei a questionar as motivações da garota. Será que existe mesmo um “vilão”?

The Last of Us Part II mostra com maestria todas as graves consequências de se achar o dono da razão, o descontrole da raiva e como lidamos com ela. É uma jornada sobre amadurecimento, conhecer seus limites e, principalmente, o momento certo de parar. A obsessão de Ellie é completamente compreensível, mas torna-se incomoda com o passar do tempo. Ela chega ao ponto de colocar os próprios amigos em risco para conseguir o que quer, sem medir esforços ou consequências.

O mais impressionante é a construção desses eventos, momentos chave na trama em que o jogador não tem escolha. É a vontade de Ellie que deve ser seguida, ponto final. Essa sensação de impotência em que me encontrei diante de atitudes questionáveis é o que mais me instigou a continuar. Afinal, até onde ela é capaz de ir?

Jogabilidade aprimorada

The Last of Us Part II

The Last of Us Parte II mantém a jogabilidade de seu antecessor, mas com diversas melhorias. Agora os inimigos não são céticos quanto ao seu companheiro de jornada, quem estiver viajando conosco pode e será visto se der muita bandeira por aí. Enquanto no antecessor Ellie era praticamente invisível, mesmo passando na frente dos adversários.

O sistema de evolução e aperfeiçoamento de armas também não mudou. É necessário explorar bastante para juntar as peças necessárias e deixar suas armas mais potentes. A exploração é essencial também para entender melhor a história, já que Seattle é basicamente um campo de guerra. Para descobrir com detalhes o que aconteceu ali, é importante achar os relatos deixados pelos soldados e cidadãos mortos.

Também encontramos livros e revistas com técnicas de sobrevivência, que liberam novas árvores de habilidades. Os combates estão mais aprimorados, no qual enfrentamos pessoas e soldados mais treinados. Nada de bandidos de rua, são grupos que possuem habilidades e formas de comunicação ímpares. Esse dinamismo entre as facções que enfrentamos acaba dando um novo fôlego para o jogo. Já que eles são a maior parte das ameaças que enfrentamos.

Ellie é mais rápida que Joel, o que dá uma ótima vantagem na hora de fugir. Os modos de combate do primeiro também estão presentes, você pode acabar com todos no modo stealth (furtivo), sair atirando em tudo e em todos ou até mesmo se esgueirar sem matar uma só ameaça. Uma novidade interessante é a possibilidade de se esquivar dos estaladores, apertando L1 no momento certo.

The Last of Us Part II

Entre os infectados, há novas variações que exigem outras estratégias do jogador, como os Stalkers, que se esgueiram sem fazer barulho dificultando sua localização. Já o Shambler, que explode em uma nuvem tóxica ao ser derrotado, acaba sendo muito parecido com outro tipo que já existe no primeiro game: o Baiacú.

A inteligência artificial também foi melhorada, mas vai depender do grau de dificuldade escolhido. No meu caso, escolhi a moderada (padrão) e a experiência se tornou bem balanceada. Os inimigos não me avistavam logo de cara, mas também não eram completos tapados. Ao fazer a patrulha, por exemplo, eles passavam por todo o cenário obrigando meu personagem a se movimentar.

Existem novas armas para o arsenal de Ellie, mas também sem muita variação. Isso é até compreensível, afinal o mundo acabou. O interessante é melhorar as armas que temos criando novas funcionalidades, como o rifle que pode ganhar uma mira e nos transformar em um sniper.

Riqueza de detalhes

O capricho da Naughty Dog em todos os seus títulos sempre impressionou, com The Last of Us Part II não poderia ser diferente. A riqueza de detalhes em todos os cenários é de cair o queixo. Qualquer sala que você entre possui móveis desgastados, objetos mofados ou cômodos tomados por plantas. As áreas abertas são outro espetáculo à parte.

Assim como em jogos anteriores da produtora, me vi parando diversos momentos apenas para admirar a paisagem. Ver como os produtores imaginaram um mundo pós-apocalíptico em que a natureza retomou o seu lugar é um deleite para os olhos. As expressões faciais dos personagens são outro ponto forte, mesmo durante o gameplay.

Ellie muda completamente o semblante ao estar cansada, com raiva ou enforcando um inimigo. Tudo isso fora das cutscenes. Os diálogos também são bem sincronizados com o movimento dos lábios, coisa que não aconteceu no remake de Resident Evil 3, por exemplo.

Outro ponto que me chamou a atenção é que todos os inimigos tem um nome. E não estou exagerando quando uso a palavra “todos”. Ao ver seus companheiros sendo mortos, os outros membros da facção gritam o nome da pessoa que matamos. Isso vale também para os cães, que infelizmente, precisamos matar em algum momento da jogatina.

Falando nos cães, eles foram outra adição que mexeram na dinâmica do gameplay. Como eles podem nos farejar, ficar parado acaba não sendo a melhor opção. Ao matar o dono deles, os bichos nos atacam ferozmente defendendo o parceiro caído. São detalhes que fazem desse título uma obra prima quando o assunto é imersão.

Se o primeiro jogo já era violento, prepare-se para uma verdadeira carnificina. É possível decepar membros, estourar cabeças com tiros e até ver um pescoço jorrando sangue ao ser perfurado. Os produtores não mediram esforços para dar a violência desse universo um tom ainda mais sombrio e perturbador.

Trilha sonora impecável

De volta nesse novo game, o compositor Gustavo Santaolalla mantém suas músicas simplistas e emocionantes. Em sua maioria apenas com o violino em evidência, o que não anula também os momentos tensos em que Ellie é perseguida. Uma curiosidade interessante é que Gustavo ganhou o Oscar pela trilha de Brook Back Moutain, em 2005, que também é protagonizado por LGBTs e possui bastante semelhança com as músicas de ambos os jogos de TLOU.

Acessibilidade e representatividade

Neil Druckman sofreu críticas por parte dos jogadores ao revelar a sexualidade de Ellie na DLC “Left Behind”. Mesmo assim, ele mantém uma história que preza pela diversidade e preconceitos enfrentados por essas pessoas. Essa qualidade se extende também a papéis de destaque para outras etnias, como pretos e asiáticos.

Outro acerto enorme da companhia foi adicionar ferramentas de acessibilidade que vão além da tradução para o nosso idioma. The Last of Us Part II pode ser jogado por pessoas com limitações físicas: visual, motora ou auditiva. O jogo apresenta opções que adaptam a jogabilidade e expande os videogames para públicos normalmente esquecido.

Seria até um pecado não elogiar os produtores por uma iniciativa tão maravilhosa. Mostrando que com empenho e dedicação, os videogames podem ser plataformas de entretenimento cada vez mais igualitária. Se uma pessoa for deficiente visual, por exemplo, o jogo apresenta audiodescrição das cenas, adaptações na mira e controle de veículos. Realmente o tempo de desenvolvimento do jogo foi muito bem aproveitado.

The Last of Us Part II é uma lição de como contar uma boa história

Terminar The Last of Us 2 é um sentimento realmente agridoce, pois a realidade brutal criada por Druckman coloca o jogador em situações e dilemas perturbadores. Por mais que tudo seja decidido pela própria índole dos personagens é incômodo ver que depende do meu comando para certos acontecimentos e atitudes seguirem adiante.

Ainda assim, a experiência como um todo é repleta de emoções e reviravoltas que farão os fãs questionarem os próprios valores. Acompanhar cada uma dessas histórias, entrar naquela realidade, andar pelo mundo devastado e ouvir as conversas de cada um deles deixa tudo muito intimista e reconfortante.

O ritmo da trama acontece de maneira tão natural e intuitiva, que eu quase não reparei que foram 25 horas para chegar até o final da história. Caso o jogador queira os 100%, esse tempo pode passar de 30 horas. Foi uma decisão arriscada criar uma campanha tão longa para um jogo desse gênero, mas a forma em que tudo acontece deixa a experiência incrivelmente satisfatória.

The Last of Us Parte II estará disponível a partir de 19 de junho, com exclusividade para PlayStation 4.

Esse jogo foi analisado no PS4 Fat com cópia cedida pela Sony

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Angelo Prata

Jornalista apaixonado pela arte do século XXI chamada de videogame. Tentando melhorar a internet um post de cada vez, este sagitariano que vos fala tem dificuldades em escolher um jogo favorito. As séries Super Mario, Resident Evil, Donkey Kong e Mass Effect estão no top da minha lista imaginária e sim, sou fã da Nintendo!

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