Recentemente me presenteei com um PS4, aposentando meu bom e velho PlayStation 3. E como o hype total está em cima de Resident Evil 7, logo pensei que esse seria meu primeiro game. O problema é que estava em falta na loja em que costumo comprar, então resolvi adquirir “The Last Guardian”. O mais recente game do mestre Fumito Ueda.
Já falamos sobre ele na primeira edição do GaymerCast. Contando um pouco sobre sua trajetória na indústria e a influência que a arte possui em seus jogos, mas nada anteriormente se compara com a avalanche de sentimentos que TLG causa no jogador. Raiva, angústia, desespero e empatia. Esses são só alguns exemplos do que passei durante minha jornada com o Garoto e a fera alada chamada de Trico.
Um jogo, muitos sentimentos
O jogo começa com o protagonista acordando em uma caverna ao lado de Trico, um animal ferido e acorrentado que nem consegue se levantar. O menino não se lembra de como foi parar lá e inicia uma incrível aventura para voltar para casa. Para isso, Trico e o garoto devem trabalhar juntos resolvendo enigmas, enfrentando inimigos e atando um laço de amizade e companheirismo que deixa qualquer um emocionado.
E é com essa introdução simples e direta que fui lançado no universo de TLG. Pode até parecer pouco, mas quem conhece os trabalhos de Ueda sabe que ele não é de entregar tudo de bandeja para o jogador. Com foco total na resolução de puzzles e caminhos escondidos, fiquei MUITO frustrado no inicio com o comportamento da criatura. Ele não obedece, se distrai e pode atrapalhar sua locomoção devido à câmera do game, que precisa de alguns ajustes para melhorar a jogabilidade.
Trico é essencial durante todo o gameplay, a campanha inteira foi baseada para que vocês resolvam juntos os problemas e consigam fugir. Porém, a criatura tem vida própria e para ter sucesso você precisa ficar amigo de Trico. Em muitas análises que li isso foi apontado como um problema, eu particularmente já acredito que é a maior sacada do game. TLG é aquele tipo de jogo que te fará parar, apreciar a paisagem e brincar um pouco com seu “bicho de estimação”.
Ueda nos coloca em uma situação bem diferente do que outros jogos AAA, a paciência é o elemento chave para um gameplay fluido e sem frustrações. O Garoto não pode lutar, no máximo se joga nos inimigos ou tenta arrancar os capacetes do soldados fantasmas, e Trico deve te defender. São nesses momentos que a amizade entre os dois fica ainda mais forte, cuidamos das feridas do animal, damos comida e o acalmamos. E assim como qualquer outro bicho, ele também possui suas fraquezas.
Tudo é construído de forma tão simplória, mas ao mesmo tempo colossal. Os cenários e as batalhas são de tirar o fôlego. A trilha sonora, apesar de ausente, se mostra imponente nos momentos decisivos deixando as situações ainda mais tensas. Durante as 10 horas de gameplay eu me senti responsável por Trico de verdade, esqueci que era só um jogo, esqueci que era ficção. É até assustador escrever sobre isso de um videogame, mas também quase impossível não se sentir dessa forma.
Me peguei por diversas vezes com o coração disparado, correndo para ajudar a pobre fera colocada em situações angustiantes, em especial perto do clímax. Cheguei ao ponto que não importava mais os problemas de jogabilidade, gráficos ou qualquer outro detalhe técnico imposto para julgar os “bons jogos” e “jogos ruins”. Fumito Ueda me tocou de tal forma com The Last Guardian que me fez lembrar o porquê de minha paixão pelos videogames.
Uma obra de arte
Mesmo com seus problemas técnicos visíveis, a carga emocional que TLG apresenta é como um apagador para todos eles. Foram quase 10 anos aguardando o lançamento entre diversos escândalos, adiamentos e cancelamentos. No meio de tudo isso, fomos presenteados com uma das obras mais emocionantes que já passaram pelos consoles dessa geração. Uma história de amizade pura, bela e sincera, que não só é um bom jogo, mas prova mais uma vez que games são muito mais do que puro entretenimento… eles são arte.
Angelo Prata
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