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Review: novo Resident Evil 3 não é um remake e isso decepciona

Falar da série Resident Evil é sempre difícil para mim. Isso porque é uma das minhas franquias favoritas da vida, e que me marcou na infância e adolescência com seus puzzles de fritar o cérebro. Para os fãs, revisitar cenários antigos e reviver essas histórias depois de adulto é simplesmente um deleite.

Com essa onda de remakes produzidos pela Capcom, a empresa já garante o sucesso nos ganhando pela nostalgia. Porém, estranhamente, não foi o caso de Resident Evil 3. Apesar de ter me divertido muito com o jogo, a produtora japonesa decidiu tomar um rumo diferente, quebrando o ciclo de fidelidade ao original iniciado com Resident Evil Remake (2001), e o recente Resident Evil 2 Remake (2019).

Tão perto, tão longe

Lançado originalmente em 1999, RE 3 era para ser um spin off. Isso quer dizer que ele não seria parte da saga principal e contaria apenas a crônica de uma história de fuga. Como o projeto ficou bem maior do que o esperado, foi decido que a protagonista do primeiro game da série retornaria, para contar os eventos que precedem o segundo jogo da franquia.

Resident Evil 3 - Remake Personagens

Foi nele que conhecemos o fim de Raccoon City, com seus cenários icônicos como a Clock Tower, o cemitério e o segundo laboratório de pesquisas escondido na cidade. A cereja do bolo foi um dos inimigos mais implacáveis que os videogames já viram: Nemesis. Uma arma biológica praticamente imortal, que te persegue durante o jogo inteiro. Atrapalhando a realização dos puzzles e deixando aquele frio na espinha dos jogadores.

Todas essas lembranças fizeram com que os fãs de longa data criassem expectativas enormes com o remake, mas a própria Capcom já havia divulgado que não se trata do mesmo jogo “refeito”, mas sim de uma nova versão dessa história. Por isso já era esperado que o game não ficasse tão fiel ao jogo original. Mesmo assim, após termina-lo, a decepção no quesito história foi inevitável.

O jogo só possui legendas em português, mas ficaria incrível dublado em nosso idioma

Não é um remake

Acredito que o problema principal da releitura foi tirar cenas icônicas do Resident Evil 3 original. Posso usar como exemplo, a morte de Brad Vickers, o piloto que abandonou os protagonistas no primeiro jogo e volta para resgatá-los antes da explosão da mansão. Na versão de 1999, essa cena é o momento que marca a primeira aparição de Nemesis. O inimigo imponente, ameaçador e que chega mostrando que não dará sossego.

Resident Evil 3 - Remake Cenário

Na versão 2020, a cena da morte ocorre de maneira completamente diferente, sem emoção e extremamente clichê. A impressão que fica é que eles queriam criar algo “novo”, usando apenas como o base o que já existe. Isso já aconteceu diversas vezes no cinema — e algumas vezes até dá certo —, mas nunca vi algo parecido nos videogames.

Existem outros momentos como o exemplo, que acabaram tendo o mesmo efeito: aproveitando pouco a oportunidade e acabando num piscar de olhos. Outro ponto negativo para o game foi querer ser algo frenético demais, ele não dá tempo de digerir e aproveitar tudo o que está rolando na tela. A mudança de cenários e acontecimentos é constante e incessante.

Conexões frágeis

Resident Evil 3 - Remake Personagens

Como a primeira versão do jogo tinha muitos furos, em relação ao Resident Evil 2, dessa vez tentaram unir as histórias de forma mais coerente, o que foi bem interessante. Porém, ainda ficou aquela sensação agridoce de que poderia ter sido mais. Como os REs 2 e 3 se passam na mesma cidade, quase ao mesmo tempo, era esperado que essas conexões fossem mais profundas, o que não é o caso.

Citando mais um exemplo, no game encontramos Robert Kendo, o dono da loja de armas próximo à delegacia de polícia. O personagem foi mostrado primeiro no segundo game, em uma situação crítica. Agora, em eventos que antecedem o que já foi mostrado, vemos o personagem em uma aparição relâmpago e na mesma situação anterior. O que isso agrega na história? Nada!

Existem outros trechos do enredo que tentam conectar os dois jogos, com aparição de outros personagens, mas o resultado ficou muito raso e descartável. Tire a participação deles e o game continua do mesmo jeito. Essa foi uma oportunidade de ouro desperdiçada pela Capcom. Algo que poderia dar muito mais profundidade para a história, expandir o universo e tornar esses momentos bem mais relevantes.

Intuitivo e muito divertido

O que a Capcom pecou em história e ritmo, compensou com jogabilidade e batalhas épicas. Tive dificuldade até com inimigos comuns como os zumbis, que se levantavam sorrateiramente pelas minhas costas e me atacavam sem fazer nenhum ruído! O jogo possui cenas de ação lindíssimas, que aumentam a adrenalina do jogador, mas sem perder o clima de survival horror. Foi uma pena que, junto com os cenários, alguns inimigos do game clássico também foram descartados.

Resident Evil 3 - Remake Hunter

A esquiva foi um ponto certeiro para a dinâmica das batalhas. Além de ser um elemento chave do Resident Evil 3 anterior, aqui essa função poderá se tornar uma armadilha para os menos habilidosos (como eu). Se não for realizada na hora certa a “finta” deixa o personagem vulnerável a ataques e foi o motivo de várias mortes minhas durante a jogatina.

Outra mudança foi o uso da faca, que dessa vez não se quebra após o uso, como era em RE 2. Se combinada com a esquiva, dá para zerar o game sem disparar um só tiro! É muito provável que já existam vídeos pela internet do pessoal zerando o jogo só com a arma branca.

Tá, mas e o Nemesis?

Resident Evil 3 - remake nemesis

O vilão mais amado (e odiado) do survival horror perdeu seu brilho no novo game. Antes, o inimigo dificultava até a realização de puzzles, estando em nossa cola em momentos cruciais da jogatina. O que não é o caso dessa vez! A maior parte dos trechos de perseguição foram resumidos a cenários lineares e que até diminuem sua ameaça. É estranho dizer que o Mr X, da versão remake de Resident Evil 2, ficou mais apavorante que o Nemesis.

Esqueça também as escolhas durante os encontros, pois o jogo oferece apenas um caminho para ser seguido. Mesmo assim, seria uma injustiça não elogiar as batalhas contra o monstrengo. Que se tornaram mais grandiosas e cinematográficas. Destaque para a cena do trem, em que Jill finalmente acha que vai deixar Raccoon City.

Se vários personagens foram subaproveitados, Carlos Oliveira se tornou um verdadeiro poço de carisma. Enquanto no original ele era apenas infantil e irritante. Aqui ele se tornou um cara dedicado e esforçado para fazer a coisa certa. A personalidade do mercenário se encaixou muito mais com a protagonista, que passa boa parte do gameplay dando patadas no coitado.

Trilha sonora emocionante

As músicas são outro aspecto marcante de Resident Evil 3, sendo que a Capcom não decepciona nesse quesito nem um pouco. As novas faixas, misturadas com versões remixadas do clássico me encheram de nostalgia. O que me faz mergulhar nos momentos de tensão da trama. Nos créditos finais vem o golpe final no coração dos fãs antigos, com o tema clássico de encerramento remixado.

Novo Resident Evil 3 é bom, mas poderia ser muito melhor

Resident Evil 3 Remake passa longe de ser um jogo ruim, mas ele se utiliza de uma história que já está marcada pelos fãs. Mudar tanto algo já conhecido foi uma decisão ousada, mas que na execução deixou alguns pontos a desejar. A experiência é válida e vai conquistar de cara quem nunca jogou o game original.

Sua campanha corrida e mal trabalhada é um problema que afeta o tempo de gameplay, isso pode não justificar seu preço alto em mídia física. Para PS4, por exemplo, o game está na faixa dos R$ 250,00. O jogo vem com o modo online “Resident Evil Resistance”, que será analisado separadamente.

A releitura desse clássico mexe com o carinho que eu, fã de longa data, tenho pelo game. Deixando uma sensação mista, de que era algo para ser épico e ficou beirando a mediocridade. Mesmo com seus prós e contras, Resident Evil 3 Remake, vai ser marcado como um aviso para a Capcom. A mensagem é bem clara: tome cuidado ao tentar reinventar a roda.

Essa análise foi feita com base na versão de PC

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Angelo Prata

Jornalista apaixonado pela arte do século XXI chamada de videogame. Tentando melhorar a internet um post de cada vez, este sagitariano que vos fala tem dificuldades em escolher um jogo favorito. As séries Super Mario, Resident Evil, Donkey Kong e Mass Effect estão no top da minha lista imaginária e sim, sou fã da Nintendo!

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